Qualquer atividade de produção (bem ou serviço) e de entrega ao cliente finalístico (seja interno ou externo) depende, substancialmente, do resultado da interação de fatores externos à empresa.
A forma por intermédio da qual o gestor ou o executivo percebem, avaliam e interagem com esses fatores irá determinar o sucesso ou o fracasso de qualquer empreendimento, atividade, processo ou projeto em uma empresa.
Para facilitar a avaliação de cenários em “cases” apresentados em sala de aula e em mentorias, estruturei os fenômenos e os fatos que ocorrem no ambiente externo de uma organização (empresa) e que interferem, ora positivamente, ora negativamente, na eficiência e na produtividade das atividades tanto operacionais como administrativas, cujo impacto final reflete na entrega ao cliente, seja esta entrega um bem ou um serviço.
Os Fatores Econômicos de Produtividade (FEP) foram assim por mim denominados porque interferem objetivamente na produção e na entrega de um bem ou de um serviço.
Também devem ser considerados como fatores subjacentes aos FEP a eficiência, sob o aspecto de elevação desnecessária de custos (básicos e derivados) e de elevação de custos com SEGUROS e a própria. A produtividade em si é o segundo fator a ser considerado.
Os FEP fazem parte da fase de Planejamento e de Controle quando se utiliza a metodologia PDCA (Plan (Planejar), Do (Fazer), Check (Controlar) e Act (Corrigir)).
A avaliação dos FEP é usada no planejamento quando se avalia o comportamento dos elementos do ambiente externo que interferem na produtividade.
Por intermédio da análise P.E.S.T (campos Político, Econômico, Sociocultural e Tecnológico) pode se avaliar, entender e se antecipar às dificuldades e óbices que esses fatores irão sobrecarregar o ambiente interno reduzindo a produtividade da empresa.
A mesma análise também é útil na avaliação de ambiente interno por intermédio da Análise SWOT (Strenght (Força); Weakness (Fraqueza); Oportunity (Oportunidade) e Threat (Ameaça) onde configuram tanto oportunidades como ameaças. Com essa análise em comento pode se avaliar os impactos ou interferências do ambiente externo na produtividade dos setores da empresa.
Os FEP são divididos em:
Infraestrutura crítica:
Energia Elétrica (origens: hidráulica, eólica, solar, biodiesel e mecânica);
Transportes (mobilidade urbana e rural);
Telecomunicações; e
Saneamento básico.
Infraestrutura humana:
Segurança (privada ou pública);
Formação e capacitação de pessoas;
A infraestrutura crítica
Energia Elétrica
Considera-se a:
Variação na qualidade e na sustentabilidade do fornecimento de energia;
Opções alternativas para uso em caso de falta ou inacessibilidade.
A alma da produção de bens e de serviços é a energia elétrica. Não só na produção, em si, como também em várias etapas antes e depois de um pedido ser entregue a uma empresa para ser finalizado com aquilo que o cliente quer na forma que ele quer.
O funcionamento de equipamentos e dos meios de produção, as atividades operacionais e as administrativas são absolutamente dependentes de energia elétrica.
Contudo, ao considerarmos os problemas de eficiência e de produtividade constataremos que a qualidade da energia elétrica fornecida ao longo do território nacional não é de boa e, em muitos casos, irregular no seu provimento (momentos que há e momentos que não há). Isso prejudica, sobremaneira, a produção e entrega de bens e de serviços nessas regiões.
A baixa qualidade de energia disponível no interior do território nacional também contribui para o êxodo populacional em busca de melhores condições de vida nas margens das grandes cidades o que, por sua vez, traz outros problemas sendo o principal deles os impactos na preservação ambiental, na mobilidade urbana, nos aumentos de sinistros e violência urbana.
Sob o aspecto da eficiência, haverá o aumento de custos para aquisição de unidades móveis extras de fornecimento de energia elétrica além de custos de reposição de equipamentos danificados pela variação no fornecimento. Também deve ser considerada a elevação de custos com seguros para reposição de itens danificados. Da mesma forma, a indenização por perdas devido às mesmas falhas advindas de fornecimento irregular e da baixa qualidade.
Transporte
Considera-se a:
Acessibilidade de pessoas, insumos e equipamentos;
Precariedade da malha viária rodoviária;
Baixa quantidade da malha ferroviária;
Poucas opções para demais modais de transporte; e
Pouca quantidade de terminais intermodais (capazes de fazer a junção de veículos e meios de transporte pertencentes a cada modal).
É um fator de fundamental importância em função do ir e vir, da circulação, da acessibilidade e da mobilidade. Dá o tom da produtividade e da eficiência aos processos organizacionais e é de crucial importância na atividade produtiva.
A circulação de bens, dos insumos de produção (de bens e de serviços), de pessoas (funcionários, clientes, fornecedores etc.) nos diversos modais de transporte (rodoviário, ferroviário, marítimo, aéreo, lacustre, fluvial e dutoviário) é estabelecida pela velocidade e pela segurança dos meios e dos modais de transporte, além de poupar tempo.
Velocidade; custo e segurança são outros fatores decorrentes dos transportes quando considerada a acessibilidade tanto para chegar como para sair de um centro de produção, seja de bens ou de serviços.
A qualidade e a disponibilidade desse fator é muito reduzida nos grandes centros urbanos em função da mobilidade urbana.
Portanto, segurança, mobilidades urbana e rural e acessibilidade são decorrentes da qualidade desse fator de infraestrutura crítica.
Telecomunicações
Considera-se a:
Baixa qualidade dos serviços de telecomunicações;
Infraestrutura de provimento, de distribuição e de manutenção incipiente para as necessidades de desenvolvimento econômico;
A necessidade de comunicação com clientes, fornecedores, acionistas e funcionários em unidades remotas;
Relações com fornecedores, clientes e stakeholders;
Velocidade e qualidade dos dados; e
Influência na qualidade, no ritmo e na segurança do processo produtivo.
Os processos de comunicação e de controle de qualquer atividade, produtiva ou mesmo administrativa, não pode renunciar a ótima qualidade dos equipamentos, dos sinais de transmissão de voz ou de dados, dos veículos e das metodologias usadas por intermédio das telecomunicações.
A qualidade ainda incipiente da estrutura de provimento, distribuição e de controle de toda a atividade de telecomunicações, ao longo do território nacional, ainda está aquém daquela necessária requerida e esperada não só por quem produz, mas por qualquer elemento de todo o ecossistema logístico -nacional e internacional- bem como pelos clientes, tanto intermediários como os finalísticos.
Saneamento básico
Considera-se a:
Precariedade do saneamento básico;
Alagamentos;
Danos ao solo e dano ou fragilização de estruturas -horizontais ou verticais- de edificações;
Alta densidade e concentração populacional em grandes cidades; etc.
A baixíssima qualidade do saneamento básico na maioria das cidades brasileiras, sobretudo aquelas que se encontram na faixa oriental do território, contribui para vários problemas e dificuldades na promoção e disponibilidade da saúde pública com qualidade, no rendimento escolar e educacional, no rendimento laboral de funcionários, na segurança física de instalações e de vias de acesso (alagamentos e acomodações de solo).
Além dos aspectos sanitários e epidemiológicos agravados pela baixa qualidade do saneamento básico, a mobilidade e a acessibilidade são substancialmente prejudicadas por ocasião de alagamentos oriundos ou não de chuvas.
A infraestrutura humana
Já como parte da infraestrutura humana pode-se avaliar os aspectos conforme abaixo:
Segurança Pública
Considera-se a:
Segurança de pessoas, bens e instalações;
Circulação e acessibilidade; E
Guarda e segurança de bens e de patrimônio.
Ameaças à vida e a integridade física de funcionários, clientes, fornecedores etc. que circulam nas edificações das empresas e de seus depósitos (armazéns, CD´s etc.) é agravada quando há problemas na promoção da segurança pública na região ou no município onde a empresa está localizada.
A segurança pública é diretamente dependente de todos os fatores acima listados: energia elétrica, telecomunicações, transportes, saneamento básico. Também é negativamente influenciado pela baixa qualidade da educação e da formação dos funcionários, conforme visto a seguir.
Dificuldades em se promover segurança incorre em aumento de seguros não só de bens como também de operações. Incide, inevitavelmente, nos custos básicos dos produtos entregues.
Educação e formação técnico/científica
Considera-se a:
Educação Técnica e Pública;
Formação e capacitação da mão de obra;
Analfabetismo funcional;
Impactos na capacidade de absorção de produtos e de serviços por clientes;
Impactos na capacidade produtiva;
Como principal quesito da infraestrutura humana, este fator incide sobremaneira na eficiência e na produtividade. Também concorre com as paradas na produção, correção de produtos e de atividades, na qualidade dos produtos (bens ou serviços) finalizados.
Da mesma forma, esse fator impõe despesas adicionais às empresas para que invistam em treinamentos e formação complementares até que o colaborador tenha condições de atingir os níveis de desempenho laboral demandados pelas empresas.
O entendimento claro da influência desses fatores nas atividades, tanto operacionais como administrativas, em qualquer empresa, e nessas, em qualquer setor ou em qualquer nível de produção em uma empresa é de fundamental importância para a manutenção de elevados níveis de eficiência e de produtividade, permitindo que empresa atinja e mantenha elevados patamares de competitividade.
Nas fases de planejamento de qualquer atividade, convém que líderes ou responsáveis por projetos, conversem com suas equipes ou com aquelas dos setores que estarão envolvidos no projeto em questão, caso o gestor não tenha um setor diretamente subordinado a si..
A identificação antecipada da influência dos FEP nas atividades dos setores da empresa requer frequência e constância contudo, também urge de constante diálogo com colaboradores e outros setores, não só da empresa bem como de fornecedores ou eventuais terceirizados.
Convém que cada evento ou ocorrência na qual qualquer um dos FEP tenha contribuído negativamente para qualquer atividade na empresa, faz-se necessário a disseminação com o registro das ações quer solucionaram ou mitigaram o problema. O aprendizado organizacional advém da qualidade e do volume desse tipo de registro disponível na empresa. É uma forma de “lições aprendidas”.
Portanto, é um conhecimento estratégico que vale a pena ser estimulado e desenvolvido no âmbito das empresas.
Esse é um artigo original do autor e professor Jefferson W. Santos.
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