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Foto do escritorJefferson W. Santos | Ad Astra

Pessoa na pessoa



PESSOA NA PESSOA

 

A gestão de risco é uma ferramenta gerencial que permite alcançar elevados graus de eficiência e de produtividade em qualquer organização ou empresa.


Contudo, aprendi na prática que é necessário o envolvimento voluntário e sistemático de todos os membros de uma determinada empresa.


Esse elenco de processos e de projetos – a gestão preventiva de riscos (GPR)- não é simpático tampouco atrativo para a maioria dos funcionários em qualquer organização.

Todavia quanto mais o profissional se interessa em ser um agente envolvido, aderente e profundamente participativo em todas as atividades, objetivos e metas de qualquer organização, não só a organização ganha como ele consegue um considerável upgrade em sua carreira.


Para haver o envolvimento de todo e qualquer funcionário em qualquer empresa, em qualquer tipo de segmento de atividade produtiva ou econômica, é necessário haver a sensação de PERTENCIMENTO.


Para estimular, de forma natural e voluntária, a aderência dos profissionais do elenco de qualquer empresa, é importante fazê-los entender que o desenvolvimento econômico e a competitividade da empresa estão diretamente ligados -e são até consequentes- à qualidade do trabalho que cada um entrega em suas respectivas funções em seu setor de trabalho.


Confesso não ser uma coisa muito simples, pois adquirir a confiança de cada um dos funcionários pertencentes ao elenco de uma empresa leva tempo e requer, sobretudo, despertar a confiança desse funcionário para que ele entenda que sua participação voluntária, que sua aderência aos objetivos da organização que lhe emprega e lhe remunera é de fundamental importância para o sucesso e a competitividade dela no mercado.


O exemplo que eu vivenciei ocorreu no aeroporto de João Pessoa. Foi uma operação militar que ocorreu no ano de 2002. Para nós pilotos, apenas PESSOA, código de chamada via fonia ou de preenchimento de planos de voo e de relatórios de navegação aérea.


Quando iniciamos o planejamento de uma operação militar aérea com simulação de transporte de tropas e de resgate de feridos ou de acidentados -tanto em acidentes aeronáuticos como acidentes de transporte em estradas-, a chamada para a reunião de planejamento com todo o efetivo foi “PESSOA na PESSOA”, ou seja cada um (PESSOA) de nós iria passar uma semana operando no aeródromo João Pessoa (PESSOA) capital paraibana.


A preparação da logística militar foi simples em função da quantidade de vezes que fizemos este tipo de operação em outras regiões do país. Contudo o desafio estava em convencer a administradora do aeródromo -que não tinha muita simpatia para com os militares- e conseguir dela uma área dentro do pátio de manobras mas isolada do movimento das demais aeronaves comerciais. Esse era um movimento estratégico crucial para que ocorresse a operação militar. Ela nos cedeu o terreno de grama ao lado do atual terminal de carga aérea (TECA).


Outros desafios de logística complementares foram mais simplificados, dentre eles a hospedagem e o abrigo de suprimentos em um quartel do Exército Brasileiro próximo ao aeroporto, apoio de alimentação, de transporte e de lazer para todo o efetivo de 90 militares. Todos esses desafios complementares ocorreram com sucesso e de forma bastante favorável, com redução de custos para nossa organização militar em deslocamento fora de sede.


Ao longo do primeiro dia de manobra trabalhamos duro para montagem das barracas de campanha com um tipo de lona impermeável, estacas de alumínio, muita corda, fiações, caixas, caixotes, caixões de madeira ou de metal compunham todo mobiliário operacional militar para operações fora de sede.


O empenho foi tão grande e exaustivo que não percebemos intensas e enormes formações de nuvens em cima do mar a mais de 300 milhas de distância. Confesso que por estarmos habituados a ter as mesmas formações no litoral da cidade do Recife, a sede de nossa organização, sabíamos que essas formações por vezes desaguavam em alto mar chegando ao litoral como chuvas leves ou chuviscos.


Ao chegar, no dia seguinte, com a tropa formarmos em frente ao mastro para hasteamento do pavilhão nacional e briefing de alinhamento de operações, quando percebi que todas as barracas de lona estavam manchadas e algumas apresentando muita umidade (escurecimento do tecido).


Ao perguntar ao subcomandante o que havia ocorrido ele me informou que o soldado sentinela que havia ficado no aeroporto de guarda e de proteção de todo o complexo militar ao longo da noite e da madrugada, ligou para um cabo que dormia no alojamento onde todos estávamos pernoitando informando acerca das chuvas torrenciais que já estavam danificando barracas e o material de apoio operacional.


Este militar, o cabo, acordou todos os demais cabos e soldados, solicitou um caminhão para transportar todos até o aeroporto e passaram a madrugada capinando o solo para a drenagem do já grande volume de água, desfizeram as barracas, protegeram os caixotes e caixões de alumínio e dois reservatórios de combustível auxiliar que ficariam contaminados e inservíveis caso permanecessem nos locais alagados. Tudo requereu deles muito esforço físico ao longo daquela jornada noturna.


Como tudo isso ocorreu sem qualquer de um de nós, oficiais ou sargentos, soubéssemos ou tivéssemos nosso pesado sono interrompido. Os cabos e soldados simplesmente solucionaram todos os problemas e eliminaram todos os riscos latentes.


Com essa louvável atitude de todos eu percebi o elevadíssimo grau de comprometimento e de aderência de todos aqueles funcionários dos níveis operacionais mais baixos. Todos apenas no nível de execução e não de supervisão ou de planejamento.


Eles, por mote próprio, estavam comprometidíssimos com o elevado nível operacional da missão militar e o de prevenção de riscos e de acidentes que muito nos esforçávamos em manter naquela unidade aérea militar.

Ao longo dos demais dias de manobra operacional, conversei com cada um deles que, voluntariamente, se dispuseram a atender ao chamado do cabo no meio da madrugada após um dia muito extenuante de árduo trabalho sob o inclemente sol nordestino no verão. Nenhum, absolutamente nenhum deles pediu qualquer tipo de compensação ou de dispensa -o que lhes era muitíssimo merecida- de dia de trabalho ao retornarmos às nossas atividades normais na cidade do Recife.


Ali percebi que a gestão preventiva de riscos não depende somente de formação, de treinamentos e de exercícios simulados. Também não depende de escolhas de um ou outro funcionário com mais pendor ou vontade de ser indicado para trabalhar naquelas atividades.


Então percebi que qualquer funcionário, independente da função ou da posição na empresa, pode e deve ser um excelente agente de prevenção de riscos.


Foi quando percebi que a gestão preventiva de riscos pode fazer parte do DNA e da cultura operacional da organização.


Ali sedimentei o conhecimento sobre o que é PERTENCIMENTO e aderência voluntária aos objetivos e metas de qualquer organização.



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