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Foto do escritorJefferson W. Santos | Ad Astra

A escuta inclusiva


Foto: Sargento Manfrin - FAB


Gerenciar, além de conhecimento, requer sensibilidade.


Essa sensibilidade se adquire com o tempo. Esse tempo é necessário para se vivenciar situações, tomar decisões certas ou erradas. As decisões erradas quando revistas, discutidas e registradas traz valiosos ensinamentos.


Quando eu era tenente, lá pelos idos de 1982, eu tinha o hábito de perguntar e de ouvir todos que estavam em minha equipe de trabalho. Tanto sargentos, como cabo sou soldados, todos, sem exceção, sempre tem algo a dizer e a ensinar, ainda que seja um ensinamento limitado pelo limitado grau de conhecimento e de formação profissional que cada um tem.


As ordens que recebíamos, por vezes, não eram fáceis de serem cumpridas. Era o momento que a experiência de cada um contribuía para soluções. Também permitia o retorno ao líder informando sobre a inviabilidade de se entregar resultados explicando-se motivos consistentes. Eram as oportunidades que tinha para observar, meditar e absorver aqueles ensinamentos.


Quando voltei à mesma unidade que iniciei minha carreira, usava os brifings diários para incluir todos os membros da unidade aérea. Todos, inclusive soldados recém incorporados.

Eu apresentava os objetivos gerais e diários de forma objetiva e sucinta. Aguardava para complementar caso alguma dúvida surgisse. Naquele momento de reunião de alinhamento todos, sem exceção, tinham oportunidade de falar, inclusive os mais novos.


Claro que o entendimento acerca de objetivos gerais e complexos era precedido de leituras, individuais ou coletivas, de normas e de diretrizes. Eram os momentos de se sanarem dúvidas.


Ainda assim sempre havia um militar mais novo que perguntava ou que dava uma sugestão para um problema apresentado.


Era o momento no qual eu exercia a escuta inclusiva: Ouvia, fazia alguns comentários breves (o tempo nos era precioso e em reuniões longas a atenção se dispersava facilmente) dizendo se a sugestão seria ou não acolhida.


Após as reuniões ou nos momentos oportunos eu procurava o militar que fazia a pergunta e explicava, de forma mais demorada, os motivos de achar ou não a sugestão pertinente e factível. Tudo de forma respeitosa e profissional, afinal, sempre considerei que a liderança era, antes de tudo, formação. Toda oportunidade de trabalho deveria ser convertida em um ensinamento.


Essa simples atitude de ouvir, com atenção e respeito, de forma inclusiva, nos brindava com algumas vantagens.


No âmbito organizacional:

  • se as atividades dos processos de acolhimento organizacional e inclusão setorial foram exitosos;

  • servia para avaliar se as orientações tinham sido bem dadas com dúvidas dirimidas; e

  • se as diretrizes, as normas setoriais, os checklists e demais avisos tinham sido apresentados de forma clara (avaliava-se pela pertinência das perguntas) e objetiva.


Já quanto ao nível individual recebíamos:


  • A compreensão: o profissional entendia os motivos pelos quais sua sugestão poderia ou não ser acatada;

  • A curiosidade propositiva: Via de regra, quem perguntava ao saber que sua sugestão não seria aplicada, se interessava em conhecer mais e buscar formas de aperfeiçoar a sua participação com outras propostas ou perguntas;

  • A aderência: o militar se sentia, de fato, incluso no grupo, na “família”. Eu deixava claro que suas perguntas seriam sempre bem-vindas e que sempre trariam oportunidade de aprendizado também para mim e para outros;

  • A gratidão: Ao se sentir reconhecido e incluso, a gratidão era traduzida no seu empenho em participar mais ativamente das atividades buscando ser proativo e propositivo.


Sempre procurei passar essas ricas experiências que tive ao liderar profissionais de variadas origens e idade. Quem as aplicou em seus locais de trabalho confirmaram que o desempenho de sua equipe, como um todo, melhorava substancialmente.


Os resultados sempre são muito bons pois o aprendizado é constante e valioso. Vale a pena tentar.


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